Sabe quando você lê um artigo, sei lá, um texto qualquer, e tem um insight tão bacana sobre a sua empresa? Você vai lá e anota ele e faz com que ele passe a fazer parte daquilo que você está criando para a sua empresa.
E quando você encontra um livro inteiro de insights, com experiências e idéias incríveis para a sua empresa? Como condensar este mundão de idéias dentro de anotações e rabiscos? Como fazer com que estas idéias entrem já em prática na minha empresa?
Lembro-me claramente da primeira experiência que tive deste caso clássico de paixão platônica “livro-que-li” com a “empresa-que-tenho”.
Eu estava trabalhando para uma empresa americana que crescia alucinadamente no mercado mundial. Era uma empresa que saltava de 1 milhão de dólares e oitenta funcionários para uma empresa de 300 funcionários e muitos milhões mais. E olha que era uma empresa de software tradicional, hein? Bem antes da internet.
Nesse processo de crescimento, o presidente e dono da empresa nos EUA encontrou vários insights bacanas num livro que foi um sucesso no começo dos anos dois mil, chamado Build to Last, de Collins e Porras. No Brasil ele se chama Feitas para Durar.
O livro buscava explicar por que certas empresas cresciam absurdamente enquanto outras empresas (do mesmo tamanho, porte, setor e época) cresciam moderadamente. Ele analisava o perfil de liderança de cada executivo e permitia criar um padrão de comportamento nestas empresas visionárias para que elas tivessem um crescimento acima da média.
Na ânsia de fazer com que todas as pessoas naquela empresa “entendessem o espirito da coisa”, ele comprou livros para a empresa inteira. As pessoas realmente envolvidas com o negócio e que liam o livro, compartilhavam o vocabulário próprio do livro (como BHAG’s – Big Harry Audacious Goals – ou MA’s – Metas Audaciosas como na tradução chatinha em português).
Neste mesmo espírito, eu aqui no Brasil também ganhei o meu, e achei incrível. Fiquei ansioso por comprar várias cópias para o meu time também. Queria que as idéias do livro fizessem uma conexão imediata entre o que eu tinha “sacado” com o que eu queria que todo mundo soubesse que “precisava ser feito” na empresa.
Gostei tanto do livro que comprei duas cópias pra mim. Uma de cabeceira e outra do escritório. Assim tinha a mão os insights sempre presentes. O livro de fato tem vários insights interessantes. Foi meu livro de negócios favorito por muito tempo. Mas não comprei o livro para a empresa inteira.
Mesmo extremamente empolgado pelo livro, entedia que deveria fazer com que os valores que eu achava interessante fossem acontecendo de verdade dentro da empresa. Primeiro, por que as pessoas não necessariamente percebiam as mesmas coisas que eu. Segundo, elas poderiam perceber coisas que o “chefe” não percebe que só não mudam por causa dele mesmo. E terceiro, as pessoas não são obrigadas a gostar de ler livros de negócios.
Assim, ao contrário do que dar uma forçada de barra, fui deixando fluir idéias interessantes para até que outras pessoas quisessem espontaneamente ler o livro. Muito mais importante que isso, os conceitos e valores principais ficaram minha na mente e na experiência daqueles que puderam trabalhar comigo naquela época. Muitos, sem fazer idéia de onde vinham certas idéias.
Esta não é uma crítica a este modelo e nem a este tipo de iniciativa. Se a turma acha legal, bola pra frente! Incentivemos a leitura. Mas faça isso da forma mais natural possível. Peça pra todo mundo ler e peça pra mandarem feedbacks sobre o livro a medida que foram achando algo legal. Fica interessante. Vale lembrar, como dizia mestre Chico, motivação é uma porta trancada por dentro. Por outro lado, nada motiva tanto quanto um bom exemplo.
PS1: Estive em uma segunda empresa (bem maior que a do caso previamente citado) onde um dos gestores resolveu dar aos seus pares um livro, na expectativa de alinhar direções, conhecimentos e alinhar “pra onde vamos, poderoso líder?”. Não deu certo e o cara acabou sendo frito alguns meses depois. O livro que ganhei? Bom, já havia lido… 😉
PS2: Nem tudo é perfeito. Em 2007, Phil Rosenzweig lança o livro The Halo Effect, com uma teoria bem consistente que derruba vários gurus (entre eles o Collins e o Porras), que atribuiram ao sucesso de algumas empresas “auras” que não necessariamente seriam replicáveis por estes conceitos. Este livro mora ao lado do meu Build to Last.
PS3: Yes, this is dedicated to you. 😉