Na indústria de cibersegurança, siglas são uma paixão. E também um problema. Basta olhar para o ecossistema atual: EPP, EDR, NDR, SIEM, SOAR, MDR, XDR… É tanta sopa de letrinhas que muita gente se perde. Neste texto, quero jogar luz sobre uma dessas siglas que tem ganhado destaque: o XDR.
De onde vem o XDR?
Para entender o XDR (Extended Detection and Response), é preciso voltar ao começo. Tudo começou com o EDR — o Endpoint Detection and Response — que surgiu para identificar e responder a ameaças diretamente nos endpoints. Depois, veio o NDR — Network Detection and Response — como evolução natural: afinal, nem tudo acontece no endpoint. Há ameaças que circulam pela rede, de forma mais furtiva.
Mas segurança não é linear, é complexa. E, à medida que os ambientes foram se tornando mais distribuídos e heterogêneos (nuvem, identidade, e-mail, aplicativos, IoT), era inevitável surgir uma proposta mais abrangente: o XDR. A ideia é simples — e ambiciosa: criar uma visão estendida que integre e correlacione os sinais de múltiplas fontes, automatizando respostas e ajudando os times de segurança a enxergarem o que antes ficava perdido nos silos.
Mas o que é XDR, afinal?
Segundo o “Market Guide for Extended Detection and Response” do Gartner (ID G00801030, out/2024), o XDR é uma plataforma que unifica a detecção e resposta a incidentes de forma automatizada. Isso inclui:
- Coleta e correlação de dados de diversas fontes (endpoints, rede, e-mail, identidade, etc.);
- Enriquecimento de alertas com inteligência de ameaças;
- Respostas automatizadas e coordenadas a incidentes;
- Dashboards integrados e experiências otimizadas para analistas.
O Gartner é direto ao explicar que XDR não pretende substituir um SIEM — ainda que possa assumir parte de suas funções — nem um SOAR. Mas pode reduzir significativamente o custo de operação e o volume de alertas, ao mesmo tempo em que melhora a qualidade e a velocidade da resposta. Ao mesmo tempo, talvez sem querer, a obsolescência de uma abordagem baseada somente nestas tecnologias vai ficando evidente.
Existem diferentes tipos de XDR?
Sim. E isso é crucial para qualquer decisão de adoção. O Gartner define três modelos principais:
- Closed XDR: também chamado de nativo. Funciona apenas dentro do ecossistema do fabricante. Exemplo: Microsoft 365 Defender, Palo Alto Cortex XDR. É eficiente, mas cria dependência e reduz a flexibilidade.
- Open XDR: é o oposto. Foca na integração com ferramentas de diferentes fabricantes, permitindo um cenário mais realista e interoperável. Exemplos incluem Stellar Cyber Open XDR, Exabeam e outros. Requer maior esforço de integração, mas respeita o legado do cliente.
- Anchored XDR: é um meio-termo. Usa um produto “âncora” (geralmente o EDR) como base, mas permite certa abertura para integrações com terceiros. Ideal para MSSPs ou organizações que já usam uma solução central e querem expandir aos poucos.
- Essa classificação ajuda a entender que não existe “um XDR ideal”, mas sim o XDR mais conveniente para a sua realidade.
XDR x MDR: Não confunda serviço com produto
Outro ponto importante é não confundir XDR com MDR (Managed Detection and Response). O XDR é uma plataforma tecnológica; o MDR é um serviço gerenciado que pode (ou não) usar um XDR como base. Um complementa o outro, mas não são a mesma coisa.
Então… Qual é o melhor XDR?
Depende. E aqui vai minha visão pessoal. Lembrando que no momento em que escrevo este artigo sou o Country Manager da Stellar Cyber no Brasil.
Seria lindo imaginar um ambiente de segurança inteiro baseado em um único fabricante. Mais fácil de integrar, menos gente para negociar. Mas isso é realista? No contexto do Brasil e da América Latina, dificilmente. A grande maioria dos clientes opera ambientes híbridos, com soluções de diferentes fornecedores, muitas vezes escolhidas por preço ou legado.
Por isso, acredito que o melhor XDR será aquele que conseguir se conectar ao que o cliente já tem, entender esse cenário e entregar valor: correlação de dados, redução de ruído, automação e resposta. Em outras palavras, aquele que oferece o melhor custo-benefício operacional — não apenas financeiro, mas em produtividade e eficácia.
Referência:
Gartner, Market Guide for Extended Detection and Response, ID G00801030.
Disponível para assinantes em: gartner.com/document/5522796